Grey

"O dia amanheceu tristonho… mas de tal modo que insistia em que todos dessem conta desse facto. As lágrimas caíam, por vezes mais fracas… outras vezes mais fortes, mas aqueles que, mesmo assim, saiam à rua tinham que se proteger.
Tal como o dia ele também havia acordado “cinzento”. Não sabia porquê mas gostava de usar essa expressão! Os outros não diziam que estavam “blue”? O que ninguém entendia… então porque não poderia ele estar “cinzento”???
Como não tinha nada programado para aquela manhã resolveu entrar na garagem onde sempre se “esquecia” de deixar o carro e havia resolvido encher de tralha!
Logo à frente estavam as duas bicicletas…
Pouco depois estava o carrinho e todas as ferramentas de jardinagem! Como havia “brincado” com ela quando apareceu em casa com aquela parafernália toda de jardinagem e resolveu que daquele dia em diante iria ser “jardineira de fim-de-semana”... mas o que é certo é que as sebes e as hortenses azuis, que ladeavam a entrada, ainda estavam bonitas. Por vezes pensava porque é que ela tinha querido tanto que as hortenses ficassem azuis...
No meio de tanto bricabraque era quase impossível andar.
As prateleiras que ele havia colocado, ao fundo da garagem, estavam repletas de frascos de vidro. Acumulavam parafusos, pregos, ferramentas… até conseguia vislumbrar um berbequim daqueles antigos, que já ninguém usaria.
Reparou então na última prateleira.
O livro encadernado, a couro envelhecido, era impossível de ignorar.
Sabia que estava repleto de fotos, talvez já sem cor, debotadas por alguns anos…
Quando se esforçou e esticou-se para o tirar, caiu lá de dentro um cd (será que ainda tocava?).
Quando finalmente se decidiu a sair e entrar no carro, o som do cd preencheu todo o espaço.
E ele...
E ele chorou, como o dia que já chorava."

Stella