Zurique - Estação de combóios

Morava ali há tantos anos, que já não sabia quantos! Mas gostava do lugar que lhe haviam dado! Estava bem no centro, onde tudo era visível, quando se esforçava até conseguia ver aqueles que viviam acima dele, como que guardiões de um tempo perdido, velando por todos os que cruzavam os caminhos, entravam, saiam, corriam, esperavam …
Durante a manhã era a azáfama do trabalho, das aulas… depois haviam sempre os transeuntes habituais, que ele já conhecia, já sabia quando iam chegar atrasados, perder o comboio, despedir-se com um aceno de mão ou com um beijo molhado!
À tarde não deixava de “namorar” os avós que passeavam com os netos e os meninos e meninas da escola que se demoravam de mãos enlaçadas, nos bancos em redor, como que eternizando os últimos momentos de mais um dia.
Depois quando caia o anoitecer voltava a mesma correria, o regresso apressado a casa, novamente o lutar contra o tempo para não deixar o comboio fugir, ainda para mais porque este insistia em sair à hora marcada! Teimava em não esperar por nada, nem por ninguém!
Finalmente à noite, o silêncio começava a imperar… mas ainda haviam aqueles que passeavam pelas ruas, fazendo da noite dia, uns trabalhando, outros procurando refúgio para a solidão que se vangloriava de não os largar.
Mas, no fim do fim … quando os dois se encontravam, pela segunda vez, no meio e na vertical superior, parecia que tudo tinha acabado… mas afinal não passava de uma ilusão! Tudo iria recomeçar, vez após vez, enquanto o intrincado mecanismo não se cansasse de trabalhar!

Stella